quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Reflexão

A marca do Bombeiro
Ayrson Alves dos Santos Júnior

Uma marca, um sinal, um símbolo, um indicativo especial. A marca do Bombeiro.  Cada instrutor que chegava revelava detalhes dessa marca, e ficávamos ali observando e percebendo o quanto isso era importante. As informações em torno daquela marca eram muitas: gráficos, medidas, cálculos...  Muitos cálculos. Alguns se apressavam em decorar, outros apenas tentavam entender a essência daquela misteriosa marca.  O mundo gira em torno de marcas,  estudadas, planejadas, calculadas pelos especialistas em marketing.  Uma marca bem trabalhada é capaz de gerar nas pessoas diversas reações: alegria, poder, prazer, segurança.
Conhecemos a estória da famosa marca do Zorro. As pessoas oprimidas que viam aquele rabisco em forma de Z sabiam que não estavam sós, havia alguém disposto a protegê-las das mazelas e da opressão em que viviam. Mas isso, nós sabemos, é lenda. Durante o curso também vivemos outras marcas, momentos marcantes dos colegas que argumentavam, dos questionadores, dos tumultuadores que descontraiam e quebravam a tensão das aulas, dos que ficavam quietos e passariam despercebidos não fossem as notas altas nas provas. Daqueles que se tornaram mais próximos e sempre prontos a dar aquela força necessária a transpor os obstáculos que nos apareciam. As marcas dos instrutores pelo jeito peculiar de cada um, nos levando a aprender, entender e conhecer uma das mais importantes marcas. Mas afinal que historia é essa de marca? Que absurdo é esse de se levar quatro meses estudando, em temo integral, para se aprender sobre uma tal marca? Esta não é uma marca qualquer, trata-se da Marca do Bombeiro.
Bem, na verdade essa história começou há muito tempo atrás. Possivelmente muitos aqui a conhecem e está registrada nos capítulos 11 e 12 do livro de êxodo, na época em que o povo de Israel era escravo no Egito, onde Deus revela a Moisés uma praga  que viria sobre aquela terra e traria muita morte no meio daquele povo.
Assim como aquela praga que sobreveio àquele povo, temos vivido situações onde os infortúnios têm ceifado muitas vidas, principalmente em casos de incêndios onde a história nos tem mostrado fatos terríveis como as conhecidas tragédias dos edifícios Andraus e Joelma, das quais, quem teve a oportunidade de ver as imagens, jamais se esquecerá das muitas mortes pela ação do fogo, grande destruidor. Voltando ao livro de êxodo, naquele mesmo texto das escrituras em que Moisés é avisado da morte que sobreviria àquele povo, Deus também o orienta sobre alguns procedimentos que deveriam ser adotados para que aquele mau não alcançasse os israelitas.
Basicamente o procedimento consistia em pegar o sangue de um cordeiro e passar em volta das portas das casas (nas vergas e umbrais) e este sinal vermelho, o sangue do cordeiro, evitaria que o destruidor entrasse naquelas casas e ali todos estariam a salvo. Um procedimento relativamente simples e de um resultado muito valioso, mas, para isto, a obediência seria fundamental. Se Moisés ficasse a questionar a funcionalidade daquela orientação ou se desse ouvido a possíveis queixas do povo provavelmente isto teria custado a vida de muitos.
Durante o curso manuseamos vários escritos, NBRs, NTs e outros tantos papiros em busca de descobrir alguns procedimentos para também evitar a destruição nas nossas edificações, descobrimos uma maneira que não consiste em utilizar sangue, mas, de forma semelhante, uma marca vermelha. Não a colocamos apenas nas entradas, mas por toda a edificação procuramos instalar a nossa marca, sejam extintores, hidrantes, porta corta-fogo, chuveiros automáticos, alarmes... São sinais, são marcas vermelhas, não mais de cordeiro, mas de Bombeiro. Hoje somos os responsáveis pela marca que salvará vidas. Somos os Moisés do nosso tempo, não apenas o capitão Moisés Dias, mas também o capitão Moisés Jectan, os sargentos Moisés Luciano, Marcos, Paulo, o tenente Moisés Filho. A partir de agora todos ostentamos este título e, assim como Moisés, não podemos nos deter em questionamentos sobre a funcionalidade dos procedimentos das orientações recebidas, tampouco, por queixa de proprietários, engenheiros e outras pessoas interessadas, seja na consulta prévia, na análise de projeto  ou em vistorias, deixarmos de cumprir as orientações da maneira devida. É preciso obedecer às normas e instalar a nossa marca.
Essa é a nossa missão e foi isto que fizemos o tempo todo que aqui estivemos em curso. Aprendemos muito sobre essa marca, sua importância, seu poder de salvar vidas e, sobretudo, aprendemos que o mundo pode ser bem mais seguro, se confiarmos nesta marca, a Marca do Bombeiro.

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