A marca do Bombeiro
Ayrson Alves dos Santos Júnior
Uma marca, um sinal, um símbolo,
um indicativo especial. A marca do Bombeiro.
Cada instrutor que chegava revelava detalhes dessa marca, e ficávamos ali
observando e percebendo o quanto isso era importante. As informações em torno
daquela marca eram muitas: gráficos, medidas, cálculos... Muitos cálculos. Alguns se apressavam em
decorar, outros apenas tentavam entender a essência daquela misteriosa
marca. O mundo gira em torno de
marcas, estudadas, planejadas,
calculadas pelos especialistas em marketing.
Uma marca bem trabalhada é capaz de gerar nas pessoas diversas reações:
alegria, poder, prazer, segurança.
Conhecemos a estória da famosa
marca do Zorro. As pessoas oprimidas que viam aquele rabisco em forma de Z
sabiam que não estavam sós, havia alguém disposto a protegê-las das mazelas e
da opressão em que viviam. Mas isso, nós sabemos, é lenda. Durante o curso
também vivemos outras marcas, momentos marcantes dos colegas que argumentavam,
dos questionadores, dos tumultuadores que descontraiam e quebravam a tensão das
aulas, dos que ficavam quietos e passariam despercebidos não fossem as notas
altas nas provas. Daqueles que se tornaram mais próximos e sempre prontos a dar
aquela força necessária a transpor os obstáculos que nos apareciam. As marcas
dos instrutores pelo jeito peculiar de cada um, nos levando a aprender,
entender e conhecer uma das mais importantes marcas. Mas afinal que historia é
essa de marca? Que absurdo é esse de se levar quatro meses estudando, em temo
integral, para se aprender sobre uma tal marca? Esta não é uma marca qualquer,
trata-se da Marca do Bombeiro.
Bem, na verdade essa história começou
há muito tempo atrás. Possivelmente muitos aqui a conhecem e está registrada
nos capítulos 11 e 12 do livro de êxodo, na época em que o povo de Israel era
escravo no Egito, onde Deus revela a Moisés uma praga que viria sobre aquela terra e traria muita
morte no meio daquele povo.
Assim como aquela praga que
sobreveio àquele povo, temos vivido situações onde os infortúnios têm ceifado
muitas vidas, principalmente em casos de incêndios onde a história nos tem
mostrado fatos terríveis como as conhecidas tragédias dos edifícios Andraus e
Joelma, das quais, quem teve a oportunidade de ver as imagens, jamais se
esquecerá das muitas mortes pela ação do fogo, grande destruidor. Voltando ao
livro de êxodo, naquele mesmo texto das escrituras em que Moisés é avisado da
morte que sobreviria àquele povo, Deus também o orienta sobre alguns
procedimentos que deveriam ser adotados para que aquele mau não alcançasse os
israelitas.
Basicamente o procedimento
consistia em pegar o sangue de um cordeiro e passar em volta das portas das
casas (nas vergas e umbrais) e este sinal vermelho, o sangue do cordeiro, evitaria
que o destruidor entrasse naquelas casas e ali todos estariam a salvo. Um
procedimento relativamente simples e de um resultado muito valioso, mas, para
isto, a obediência seria fundamental. Se Moisés ficasse a questionar a
funcionalidade daquela orientação ou se desse ouvido a possíveis queixas do
povo provavelmente isto teria custado a vida de muitos.
Durante o curso manuseamos vários
escritos, NBRs, NTs e outros tantos papiros em busca de descobrir alguns
procedimentos para também evitar a destruição nas nossas edificações,
descobrimos uma maneira que não consiste em utilizar sangue, mas, de forma
semelhante, uma marca vermelha. Não a colocamos apenas nas entradas, mas por
toda a edificação procuramos instalar a nossa marca, sejam extintores,
hidrantes, porta corta-fogo, chuveiros automáticos, alarmes... São sinais, são
marcas vermelhas, não mais de cordeiro, mas de Bombeiro. Hoje somos os
responsáveis pela marca que salvará vidas. Somos os Moisés do nosso tempo, não
apenas o capitão Moisés Dias, mas também o capitão Moisés Jectan, os sargentos
Moisés Luciano, Marcos, Paulo, o tenente Moisés Filho. A partir de agora todos
ostentamos este título e, assim como Moisés, não podemos nos deter em
questionamentos sobre a funcionalidade dos procedimentos das orientações
recebidas, tampouco, por queixa de proprietários, engenheiros e outras pessoas interessadas,
seja na consulta prévia, na análise de projeto
ou em vistorias, deixarmos de cumprir as orientações da maneira devida.
É preciso obedecer às normas e instalar a nossa marca.
Essa é a nossa missão e foi isto
que fizemos o tempo todo que aqui estivemos em curso. Aprendemos muito sobre
essa marca, sua importância, seu poder de salvar vidas e, sobretudo, aprendemos
que o mundo pode ser bem mais seguro, se confiarmos nesta marca, a Marca do
Bombeiro.